domingo, 30 de março de 2008

A dona de casa que deu certo.

Lendo hoje o post-inveja do Chrises, sobre Martha Stewart, eu tenho de tirar o chapéu para esta senhora. No quesito sucesso estrondoso ela realmente é digna de inveja. Independente dos outros pecados capitais associado à distinta dama, cabe rever os pontos que influenciaram nesta escalada meteórica.

O primeiro ponto está diretamente ligado a uma capacidade de observação inquestionável – ela reinventou a roda. Num pretenso momento de negação das tarefas do lar, ela mostrou ao mundo que a grande maioria das mulheres gosta do seu papel de dona de casa. Não escrava do lar, do marido ou de filhos. Dona de casa. Proprietária de uma série de itens, objetos, equipamentos e receitas culinárias que proporcionem a satisfação instintiva dos sonhos da mulher perfeita. Para as novas estrelas do lar a realização culinária, a escolha de alimentos, badulaques e enfeites permanecem associados a uma satisfação imensa.

O segundo ponto foi levar a função de dona de casa a um patamar executivo, aproximando os afazeres domésticos às habilidades desenvolvidas no mercado de trabalho. As donas de casa passam a lidar com sistemas sofisticados de ingredientes, combinações de texturas, sabores e apresentação dos pratos dignos de qualquer processo empresarial que se preze. Além do mais para se manterem atualizadas necessitam criar uma poderosa rede de informações sobre o que, como, onde, para que e a que custo. A inteligência de mercado tomando conta das tarefas domésticas.

O terceiro ponto é sem dúvida a farta utilização dos meios de divulgação, um misto de modernidade com tradição, passeando de colunas sindicalizadas, programas de televisão, livros e conselhos na internet. Sem esquecer dos atualíssimos meios de venda eletrônica. Isto cria uma percepção no público de que a coisa foi feita para ele, para o seu jeito de ser mesmo que uma superficial análise mercadológica reconheça a presença de mil e uma maneiras de acessar a informação. A existência de uma maneira especial para cada uma faz toda a diferença.

O último ponto reflete a escolha, pela diversidade de atuações possíveis ligadas ao exercício das tarefas de casa. A atividade, antes encarada como única e indivisível, é apresentada em suas diversas facetas. Para umas a cozinha, para outras a sala, ou quarto ou lavanderia. Você decide, há gosto para todas e tudo. Com ênfase na possibilidade de exercer algumas das funções de dona de casa sem a obrigação de se escravizar ou realizar todas. Assim é possível ser uma especialista em algum segmento deste vasto mundo, sem a necessidade de ficar com o umbigo encostado no fogão, no tanque ou em qualquer outro lugar desagradável.

É, amigas, o mundo dá muitas voltas, mas o sonho da dona de casa permanece inabalável.

PS – acesse a terceira parte.

quarta-feira, 19 de março de 2008

O pundonor nacional.

Nos Estados Unidos, a renúncia do governador de Nova Iorque, expôs enfaticamente o pudor americano. A questão de como o dinheiro foi gasto e a cadeia de prostituição, por trás da coisa, tornaram-se mais importante do que a fonte do dinheiro gasto. O deslize pessoal assume importância maior do que as relações financeiras escusas.

Já no país do carnaval a vadiagem tem várias facetas. A farra com o dinheiro público financia estas questões e muitas outras. As outras estão, vagarosamente, aparecendo – compras em free shops, pamonhas e demais despesas miúdas. Esta ainda não apareceu, mas não tarda. Se houvesse uma maneira de rastrear o dinheiro retirado com cartões corporativos, não se estranharia nem um pouco que uma parte dele fosse parar em negócios administrados por amigas da “Kristen”. Ah, a lascívia tropical.

Lá os políticos costumam se desculpar publicamente por ter “violado o compromisso com a família”. Aqui, nenhum daqueles já apanhados no pulo ou por serem apanhados, jamais veio em público pedir desculpas por terem “violado o compromisso com o povo”. Todos são vítimas de um complô da oposição e, por serviços prestados, sabem-se lá quais, adquirem o direito a elogios presidenciais, na despedida.

É, existem democracias e DEMOCRACIAS.

terça-feira, 11 de março de 2008

Mais uma dele.

Os sistemas democráticos têm um dos seus pilares na independência dos poderes. Ao exercerem funções diferenciadas, o Executivo, Legislativo e Judiciário estão sujeitos a um controle funcional independente e que deveria ser isento de influência técnica ou política de um poder sobre outro. O aprimoramento da Democracia contribui para o estabelecimento e manutenção deste conceito, o qual retribui para o fortalecimento dos princípios democráticos. Desta forma completa-se o ciclo virtuoso republicano.

Muito bonito no papel. Na vida real existem questões em que as opiniões sobre atribuições ou atividades exercidas por um dos poderes é motivo de ingerências dos outros. Nada comprometedor, dependendo das circunstâncias em que esta ingerência se processa. E das conseqüências destes atos.

Recentemente a sociedade brasileira foi brindada com uma querela entre o mandatário do Executivo e o representante de uma das Cortes Supremas da Nação. Independente das razões que motivaram a troca de acusações houve a oportunidade para o Executivo, na figura do Presidente, ratificar os conceitos de independência dos poderes, com uma declaração popularesca, muito ao gosto do ocupante do cargo - "seria tão bom se o Poder Judiciário metesse o nariz apenas nas coisas dele, o Legislativo apenas nas coisas dele, e o Executivo nas coisas dele".

Frase lapidar que deveria valer para todos os ocupantes de poder. Menos para os ungidos. E quando as coisas dele dependerem das coisas dos outros? Neste caso é possível meter o nariz e criar situações de pressão para conseguir os resultados desejados? É permitido incitar a opinião pública em programas radiofônicos com afirmativas do quilate de - "Não é o governo que precisa do orçamento. O governo apenas gerencia. Quem precisa do orçamento é o povo brasileiro"? É salutar declarar que não acredita que apenas ele queira trabalhar pela aprovação do orçamento de 2008?

Para mim, estas demonstrações, além de serem contraditórias com compromisso firmado anteriormente, não combinam com uma pessoa que almeja ser lembrada como um líder. Trata-se de um caso típico e antiquado de chefite. Apenas os chefes esperneiam quando são contrariados. Seja porque criticaram o programa Territórios da Cidadania ou porque atrasam a votação do Orçamento do povo brasileiro. A contrariedade é inadmissível, para eles.

Como a política é arte de conciliar os contrários, acho que a figura em questão perdeu o tino ou se mostra um pouco deslocada, na função.

sábado, 8 de março de 2008

Uma parte da coisa.

Ninguém é dono da verdade. Nem mesmo eu.

Posso no máximo ser considerado um fiel depositário, levando-se em consideração a freqüência de acertos ou a persistente sintonia entre as verdades e as minhas opiniões. Entretanto, elas não deixam de ser as minhas opiniões.

Mesmo quando elas se mostram coincidentes com a verdade, as argumentações, as perspectivas e as conseqüências destas duas disposições são distintas. Da mesma forma que a verdade não se apodera ou domina todas as opiniões, estas não devem ser confundidas com a verdade, mesmo quando uma torna-se expressão da outra.

Todos os fatos e eventos podem ter mais de uma parte. Sempre existe a possibilidade de interpretar uma situação de forma distinta. E os assuntos não necessitam ser, intrinsecamente, polêmicos para terem este comportamento. Basta gerarem interesse em grupos distintos e aparecem algumas partes da coisa. Pontos de vista, maneiras de pensar e ver o mundo, posições, convicções, crenças, valores e conceitos contribuem para uma diversidade na interpretação dos fatos e no distanciamento do consenso.

E, como já dizia o grande pensador Nelson Rodrigues - a unanimidade é burra. Viva a diversidade.

Este foi o motivo da criação deste espaço. Aqui será apresentada uma parte da coisa. A outra, ou as outras necessitarão que os defensores se apresentem. Inicialmente sobre a forma de comentários e, quem sabe, num futuro próximo, como colaboradores.